Osso duro

A Nina ia engatinhando pelo quintal, em direção ao portão da casa da vovó. Eu a chamo e quando ela vira, está com o osso da cachorra na boca.
(Nina, 8 meses)

No meu tempo…

Eu comentava com meu marido que no meu tempo isso, no meu tempo aquilo, quando a Maria perguntou: “No seu tempo o mundo era colorido ou preto-e-branco?”.

(Maria, 4 anos)
Fonte: Encarte “Papo de mãe”, da revista Claudia.

O que a mamãe tem e o papai não?

A mãe estava amamentando o Pedro, recém nascido, e a Luiza e o pai estavam no sofá ao lado. O pai então diz, apontando para o peito da mãe:

– Lú, olha bem pra mamãe… O que a mamãe tem (aponta o peito) e o papai não?
Ela olha para o pai, olha para a mãe, olha para o pai de novo e responde:
– Cabelo.
(Luiza, 2 anos)

Aniversário

– Nina, fala pra mamãe: quantos aninhos a Nina vai fazer?!?
– Deeeeeezzzz!
– Não, filha, são dois… assim ó, com dois dedinhos. Conta junto com a mamãe. Depois do número um vem o…
– Dooooooiissss
– Isso, bebê!!! Que linda! Agora fale… quantos aninhos a Nina vai fazer?!?
– Deeeeeezzzzz!!

(Nina, 1 ano)

Herbalife

Centro de São Paulo, rua lotada, multidões de pessoas se empilhando por todo lado e ambulantes vociferando suas ofertas de produtos piratas.

Nesse embaraço, o pai a carrega no colo já há quase uma hora. O braço cansado, a coluna pendente, as pernas fracas, o suor em bicas. Ela já tem dois anos. Ela já tem quase 15 quilos. Ela sorri. Está tudo bem.

Ela para de olhar a rua por um segundo, sonda o rosto do pai, o fixa nos olhos, passa os dedos pela barba e com os dedinhos juntos aperta-lhe as bochechas enquanto exclama sorridente:

– Gordinho!

(Nina, 2 anos)

O nome do bebê

A tia grávida, sentada no sofá e a Luiza ao lado observando a barriga. A tia pergunta:

– Lú, como você acha que deve chamar o nenezinho da tia?
– Júnior.
– Ahh, que linda, por causa do tio Dal, né?
Ela fica quieta.
– E se for menina, Lú, como deve chamar?
– Sandy.
(Luiza, 5 anos)

Mestre-cuca

No parquinho, ela brincava na casinha de plástico. Abre daqui, fecha dali e, de repente, uma revoada de crianças barulhentas (acho que isso é redundância, não sei não) passa correndo pelo lugar. Ela observa pela janela da barraca, atenta, séria, entretida aos movimentos da molecada. E quando a turma ameaça correr em direção à saída, ela pára na porta e grita:

– Ei, venham papá, quianças!

(Nina, 2 anos)

Co-piloto

Já era tarde. Quase dez. Hora de criança estar na cama, já diriam várias pessoas. Mas nós ainda estávamos na rua, no carro, a família toda voltando do shopping. Adultos na frente, em silêncio, acreditando no sobrenatural poder sonífero que os automóveis exercem sobre as crianças e desejando que a nossa já estivesse dormindo para ainda tentar ver um filme qualquer no DVD (é incrível como nosso critério de filme bom muda depois da paternidade – até o Van Damme vira um clássico, raridade mesmo).

Finalmente, já na garagem do prédio, duas ou três curvas feitas suavemente e estacionamos o carro. Música desligada, freio de mão puxado, cintos soltos correndo de volta para o buraco-negro dos cintos de segurança e lá de trás uma voz desponta no silêncio:

– Ahh, cheguei!

(Nina, 2 anos)

Sesta

Depois do almoço, a Nina estava descaradamente com sono.

– Papai, quero o DVD da Lola…
– A Lola e o Charlie foram dormir um pouco, filha.
– Quero o Barney.
– O Barney também está cochilando.
– Ahnf! – contrariada, esfregando os olhos.
– Nina, você sabe o que tooodas as criancinhas fazem, quietinhas, deitadas, logo depois do almoço?
– Arrãm.
– Ah, sabe? O que elas fazem?

Ela pensou um pouco.

– Bagunça!
(Nina, 2 anos)