Postado pelo Jorge Oliveira no blog Canto do Jó.
Autor: Luiz Henrique Matos
Pret a porter
Família pronta pra sair de casa, todo mundo se arrumando. Pegue as chaves. Leve a nina pra fazer xixi. Não esquece a chupeta. Você viu meu celular? Achei. E a carteira, tá por aí? Anda logo, filha, venha que estamos atrasados!
Então, a Nina e eu já estávamos no hall do elevador esperando a mãe chegar. Quando ela saiu do quarto, com a roupa trocada e o perfume passado, a Nina a mediu da cabeça aos pés e sugeriu:
– Mamãe, você tem que trocar esse pijama.
(Nina, 2 anos)
Little girl
A família de férias em NY e nós, num típico programa de turista, fomos ao Central Park levar a Nina para brincar. Enquanto ela balançava num dos brinquedos, viu uma garotinha americana correndo atrás de uma bola.
– Menininha! Ei, menininha! – ela chamava insistentemente.
E, por razões obvias, a garotinha não olhava.
– Menini-nhaaa!
Nada.
– Pai, acho que ela não sabe ouvir.
(Nina, 2 anos)
Férias (com crianças)
Cenas domésticas: Trapalhadas paternas 2
– Filha, você quer ir trabalhar com o papai hoje?
Tive que levar a Nina pro escritório. Além da grandiosa, epopéica, dificílima e quase impossível tarefa de pegá-la na escola, levar pra casa, dar o almoço e trocar de roupa, ainda me restava o desafio de carregar minha filha para o trabalho num dia em que minha esposa estaria presa em reuniões e não poderia estar em casa mais cedo.
Confesso que eu tinha medo de como ela reagiria ao ambiente, mas, eu não imaginava, o primeiro martírio foi meu e não dela. É constrangedor notar como você passa a ser o foco número um de olhares estranhos te seguindo os passos ao entrar de mãos dadas com um serzinho cor-de-rosa e menos de um metro de altura no seu ambiente de trabalho.
Vencida a barreira dos olhares e comentários, chegamos à minha mesa, tirei os badulaques, brinquedos e.
Passada a via-crúcis paterna, tudo ótimo. Minha filha me enchia de orgulho desenhando com seu super-lápis-de-cor no verso de alguns relatórios confidenciais que eu tinha que analisar. Ganhou mimos, saiu com uma colega para ganhar presentes na redação de revistas infantis, voltou feliz da vida com seu “kit das princesas” e perdeu um pouco a inibição do início de já conversava abertamente com as pessoas.
Até que…
Até que, o presidente da empresa entrou em nossa sala. Peraí, você leu direito isso aí? Eu disse: até que o PRESIDENTE da empresa entrou na sala! E minha filha ficou olhando aquela figura engravatada caminhar na nossa direção.
– Opa! Quem é essa aí? – ele disse sorrindo (bom, o fato de seu super-chefe sorrir não alivia em nada a tensão do momento).
– É a chefe nova – eu disse e, em seguida, já me arrependi (bom, o fato de você fazer uma brincadeira sem graça enquanto está diante do seu super-chefe demonstra que você nunca pode confiar em si mesmo diante de situações constrangedoras).
– Oi mocinha! Como você chama?
– Nina – ufa, ela respondeu!
– Que bonitinha…
Então ela olhou para as mãos dele, fitou nos olhos e soltou:
– Que isso aí na sua mão?
Eu já nem respirava mais.
– O quê? Ahh, você gosta de gibis? Esse aqui é o Pernalonga, conhece? – bem, antes que você pense que presidentes de grandes empresas andam com revistas em quadrinhos pelos corredores ao invés de relatórios e planilhas complexas, acho importante dizer que eu trabalho numa editora.
– Deixa eu ver?
– Olha aqui ó – ele ainda sorria (e um filme com a retrospectiva da minha carreira passava em minha mente em alta velocidade).
Então ele perguntou:
– Nina, você gosta de balas?
Ela, como filha educada que é, olhou para mim e ficou esperando a resposta. Ele, em sei lá qual condição, também me olhou e esperava uma resposta. E então, pela primeira e última vez na minha vida eu me vi dando alguma autorização para o presidente.
– Sim, pode dar – eu disse num misto de pavor e um pingo de satisfação.
– Vem comigo, Nina. Dá a mão pro tio.
Ela saiu pelo corredor de mãos dadas com ele. O tempo passava e eu não conseguia pensar em nada enquanto olhava fixamente pela porta por onde ela saiu.
Cinco, dez, 20 ou 190 minutos depois ela voltou. Da sala do presidente, ela chegou com as mãos cheias de balas 7Belo:
– Papai, papai! Olha!
– Eu falei pra ela pegar a balinha e ela me perguntou se “pode pegar duas”. Aí eu mandei ela encher a mão – ele me disse, ainda sorrindo (e isso já começava a me aliviar) – vai lá, Nina. Vai lá com seu pai.
– Puxa, obrigado Sr. Fulano… e, filha, agradeça o tio.
– Bligada!
– Ô, que nada. Tchau.
Eu me recuperava de um quase infarto e ela já enchia boca com duas balas ao mesmo tempo. Eu sei que ela nem tem dimensão da experiência que teve e é isso que mais me apaixona nas crianças. A ousadia livre de não ter sua opinião abalada pela posição das pessoas e apenas aceitá-las sem barreiras se elas lhe parecem sinceras e amigáveis (é claro que um pacotinho de 7Belo influencia muito nessa reciprocidade).
Minutos depois, um conference call acontecia na mesa ao lado e ela, já totalmente amiga de todo mundo, falava pelos cotovelos.
– Nina, shhhhiu… silêncio, filha!
Ela olhou para os lados, sondou as pessoas e perguntou sussurrando:
– Quem ali tá durmindo?
Meu telefone tocou. Era minha chefe. Eu, numa ligação mega-ultra-hiper-urgente tentava assimilar as decisões que ela me pedia para tomar enquanto prestava atenção na minha filha fugindo pelo escritório em direção à saída.
Um homem vinha pelo corredor e a pegou no colo. Primeira sensação: alívio (ela estava a salvo e eu poderia me concentrar no telefonema). Segunda sensação: dúvida (quem era o cara, afinal?). Terceira sensação: desespero (era o diretor de RH!).
O foco necessário na conversa telefônica me impede de analisar o que a Nina e ele conversaram naqueles minutos, mas eu confesso que ainda prefiro não saber o que se passou.
Antes de encerrar a ligação, o diretor já havia saído do local, a Nina estava sentada outra vez, de volta aos desenhos e às Princesas.
Terminei o que precisava fazer, enviei alguns últimos emails e desliguei o computador. Recolhi as coisinhas multicoloridas que enfeitavam minha mesa e enquanto a Nina se aprontava (e chupava a oitava balinha 7Belo), fiquei pensando nas duas novas amizades da minha filha, na visita a sós na sala do presidente, no cafuné recebido pelo diretor de RH e o agrado geral causado com a equipe.
– É, filha, em três horas por aqui você conquistou o que seu pai nunca conseguiu em sete anos de empresa.
(Nina, 2 anos)
Cenas domésticas: Trapalhadas paternas 1
Hoje minha esposa precisou sair mais cedo de casa e eu fiquei com a incumbência de acordar, vestir, dar o Nescau e levar a Nina para a escola – bem, é evidente que ela deixou cada peça de roupa devidamente separada e o lanchinho pronto sobre a pia, para eu não esquecer.
– Henrique… Henrique? Henrique!?
– Ahn? Oi…
– Amor, estou saindo pro trabalho mais cedo. Acorde e preste bem atenção.
– Tá.
E até agora uma sucessão de palavras fora de ordem e tarefas desconexas ainda tentam encontrar algum sentido na minha mente.
Acordei atrasado, me aprontei, ajeitei as coisas, me atrapalhei, acordei a Nina, segui o passo-a-passo matinal e fiquei tentando convencer minha filha de dois anos de que ir à escola é mais legal do que parquinho, desenho na TV, casa da vovó e brincadeira com o priminho.
Finalmente, convencida e com a mochila nas costas, saímos do apartamento e esperávamos pelo elevador quando ela se deu conta de que alguma coisa estava diferente na rotina dela:
– Cadê a mamãe?
– A mamãe já foi para o trabalho, filha. Hoje ela tinha que ir mais cedo.
Ela pensou, olhou para o elevador, para a porta e, espantada, exclamou:
– Nóis tá sozinho!?
Pois é, querida, seu pai conseguiu…
(Nina, 2 anos)
Gargalhada
Tá bom, esse é bem velhinho, mas sempre vale a pena rever.
Nadação
– Eu não faço aula de natação, faço de nadação. Lá a gente só nada, nada…
(Paulinho)
Enviado pelo Jair Humber
Sal de frutas
– Pai, quié isso?
– É sal de frutas, filha.
– “Flutas”? Tem suquinho de uva?
– Não, é que…
– Com manga?
(Nina, 2 anos)
Aula de dança
Mais um vídeo para o fim de semana.
Fonte: Canto do Jó