Orgulhosa

A família toda no carro, a Nina chama lá de trás:
– Mamãe?
– Oi, filha.
– Você tem orgulho do seu pai?
– Tenho, sim, Nina. Tenho muito orgulho do meu pai. E você?
– Eu também.
E o pai, que dirigia, sorriu todo cheio.
– Mamãe?
– Oi.
– O que é orgulho?

(Nina, 5 anos)

Ufa!

– Mãe, lembra quando a gente saiu e eu disse pra você que vi alguns extraterrestres do outro lado da rua?
– Lembro.
– Então, era mentira. Só queria te assustar.

(Natália, 6 anos)

Enviado pela Katiusca Arruda

Mãe Diná

A mãe chega em casa à noite e encontra um bilhete:

“Mãe, o Rafa e a Ana não quiseram me falar que dia foi depois de amanhã.
Boa noite.
Beijos e abraços.
Natália”

(Natália)

Enviado pela Ana Julia Zecchin

Superlotação

– Papá, existem mais planetas?
– Sim filho, existem.
– Então porque é que as pessoas vivem todas no nosso?

(Samuel, 4 anos)
Enviada pelo Nelson Gago

Fases de crianças

Antes que elas cresçam
Affonso Romano de Sant’Anna
Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos.
É que as crianças crescem. Independentes de nós, como árvores, tagarelas e pássaros estabanados, elas crescem sem pedir licença. Crescem como a inflação, independente do governo e da vontade popular. Entre os estupros dos preços, os disparos dos discursos e o assalto das estações, elas crescem com uma estridência alegre e, às vezes, com alardeada arrogância.
Mas não crescem todos os dias, de igual maneira; crescem, de repente.
Um dia se assentam perto de você no terraço e dizem uma frase de tal maturidade que você sente que não pode mais trocar as fraldas daquela criatura.
Onde e como andou crescendo aquela danadinha que você não percebeu? Cadê aquele cheirinho de leite sobre a pele? Cadê a pazinha de brincar na areia, as festinhas de aniversário com palhaços, amiguinhos e o primeiro uniforme do maternal?
Ela está crescendo num ritual de obediência orgânica e desobediência civil. E você está agora ali, na porta da discoteca, esperando que ela não apenas cresça, mas apareça. Ali estão muitos pais, ao volante, esperando que saiam esfuziantes sobre patins, cabelos soltos sobre as ancas. Essas são as nossas filhas, em pleno cio, lindas potrancas.
Entre hambúrgueres e refrigerantes nas esquinas, lá estão elas, com o uniforme de sua geração: incômodas mochilas da moda nos ombros ou, então com a suéter amarrada na cintura. Está quente, a gente diz que vão estragar a suéter, mas não tem jeito, é o emblema da geração.
Pois ali estamos, depois do primeiro e do segundo casamento, com essa barba de jovem executivo ou intelectual em ascensão, as mães, às vezes, já com a primeira plástica e o casamento recomposto. Essas são as filhas que conseguimos gerar e amar, apesar dos golpes dos ventos, das colheitas, das notícias e da ditadura das horas. E elas crescem meio amestradas, vendo como redigimos nossas teses e nos doutoramos nos nossos erros.
Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos.
Longe já vai o momento em que o primeiro mênstruo foi recebido como um impacto de rosas vermelhas. Não mais as colheremos nas portas das discotecas e festas, quando surgiam entre gírias e canções. Passou o tempo do balé, da cultura francesa e inglesa. Saíram do banco de trás e passaram para o volante de suas próprias vidas. Só nos resta dizer “bonne route, bonne route”, como naquela canção francesa narrando a emoção do pai quando a filha oferece o primeiro jantar no apartamento dela.
Deveríamos ter ido mais vezes à cama delas ao anoitecer para ouvir sua alma respirando conversas e confidências entre os lençóis da infância, e os adolescentes cobertores daquele quarto cheio de colagens, posteres e agendas coloridas de pilô. Não, não as levamos suficientemente ao maldito “drive-in”, ao Tablado para ver “Pluft”, não lhes demos suficientes hambúrgueres e cocas, não lhes compramos todos os sorvetes e roupas merecidas.
Elas cresceram sem que esgotássemos nelas todo o nosso afeto.
No princípio subiam a serra ou iam à casa de praia entre embrulhos, comidas, engarrafamentos, natais, páscoas, piscinas e amiguinhas. Sim, havia as brigas dentro do carro, a disputa pela janela, os pedidos de sorvetes e sanduíches infantis. Depois chegou a idade em que subir para a casa de campo com os pais começou a ser um esforço, um sofrimento, pois era impossível deixar a turma aqui na praia e os primeiros namorados. Esse exílio dos pais, esse divórcio dos filhos, vai durar sete anos bíblicos. Agora é hora de os pais na montanha terem a solidão que queriam, mas, de repente, exalarem contagiosa saudade daquelas pestes.
O jeito é esperar. Qualquer hora podem nos dar netos. O neto é a hora do carinho ocioso e estocado, não exercido nos próprios filhos e que não pode morrer conosco. Por isso, os avós são tão desmesurados e distribuem tão incontrolável afeição. Os netos são a última oportunidade de reeditar o nosso afeto.
Por isso, é necessário fazer alguma coisa a mais, antes que elas cresçam.
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Quer pagar quanto?

Estávamos numa livraria comprando um presente para a mamãe e eu resolvi checar o preço do livro num daqueles leitores de código de barras. Coloquei o livro, esperei e o preço apareceu na tela. Então, me dirigi à fila do caixa pra pagar. Quando olhei para trás, a Nina estava ali parada em frente ao equipamento passando a mãozinha pelo leitor.
– Vem, Nina, vem logo!
Desapontada, ela olhou pra mim e se lamentou:
– Puxa, minha mão não vale nem 1 real!?

(Nina, 5 anos)

Palavrinha mágica

– Nina, desce de cima do sofá, por favor!
– Você quis dizer “Majestade”, né mamãe?

(Nina, 5 anos)

Maestro Zezinho, duas notas

Dia desses, houve uma conversa entre o Pedro e a Luiza, que estava curiosa sobre uma música que tocava no rádio.
– Não foi essa música que ganhou o Oscar?
– Oscar? Mas não é “Gremlin”?

(Pedro e Luiza)

Enviado pelo Jair

Almoço, moça

– Nossa, mamãe, eu tô rosa-escuro de fome!

(Nina, 5 anos)

Centrífuga

A Maria Eduarda estava brincando com água e eu alertei:
– Vê se não molha o cabelo, hein?
Passados alguns minutos, ela volta com a franjinha toda molhada e se explicando:
– Mãe, eu molhei a franja sem querer. Mas eu já torci…

(Maria Eduarda, 6 anos)

Enviado pela Malu Almeida