Hoje minha esposa precisou sair mais cedo de casa e eu fiquei com a incumbência de acordar, vestir, dar o Nescau e levar a Nina para a escola – bem, é evidente que ela deixou cada peça de roupa devidamente separada e o lanchinho pronto sobre a pia, para eu não esquecer.
– Henrique… Henrique? Henrique!?
– Ahn? Oi…
– Amor, estou saindo pro trabalho mais cedo. Acorde e preste bem atenção.
– Tá.
E até agora uma sucessão de palavras fora de ordem e tarefas desconexas ainda tentam encontrar algum sentido na minha mente.
Acordei atrasado, me aprontei, ajeitei as coisas, me atrapalhei, acordei a Nina, segui o passo-a-passo matinal e fiquei tentando convencer minha filha de dois anos de que ir à escola é mais legal do que parquinho, desenho na TV, casa da vovó e brincadeira com o priminho.
Finalmente, convencida e com a mochila nas costas, saímos do apartamento e esperávamos pelo elevador quando ela se deu conta de que alguma coisa estava diferente na rotina dela:
– Cadê a mamãe?
– A mamãe já foi para o trabalho, filha. Hoje ela tinha que ir mais cedo.
Ela pensou, olhou para o elevador, para a porta e, espantada, exclamou:
– Nóis tá sozinho!?
Pois é, querida, seu pai conseguiu…
(Nina, 2 anos)