Já era tarde. Quase dez. Hora de criança estar na cama, já diriam várias pessoas. Mas nós ainda estávamos na rua, no carro, a família toda voltando do shopping. Adultos na frente, em silêncio, acreditando no sobrenatural poder sonífero que os automóveis exercem sobre as crianças e desejando que a nossa já estivesse dormindo para ainda tentar ver um filme qualquer no DVD (é incrível como nosso critério de filme bom muda depois da paternidade – até o Van Damme vira um clássico, raridade mesmo).
Finalmente, já na garagem do prédio, duas ou três curvas feitas suavemente e estacionamos o carro. Música desligada, freio de mão puxado, cintos soltos correndo de volta para o buraco-negro dos cintos de segurança e lá de trás uma voz desponta no silêncio:
– Ahh, cheguei!